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domingo, 31 de dezembro de 2017

Passagem de ano

É a surpresa a envolver cada amanhã,
como novelo embrulhado pelo tempo,
que nos atrai para novas marés de sonhos
e renovados desejos desde sempre bordados
com mãos-cheias de boas intenções.
Contam-se os dias para o final de cada ano
com a ansiedade de quem quer saltar
fronteiras e do lado de lá descobrir
um mundo melhor, num ímpeto de boa vontade.
Como crianças grandes queremos sempre
mais amor, saúde, paz, prosperidade, justiça, sucesso
e sempre tudo envolvido em muita felicidade,
imensa alegria, intenso júbilo e infinitas bênçãos.
No final tudo se repete num
circular eterno retorno. Um ano acaba
e, um segundo depois, outro começa ―alheio
à velha sabedoria do que atrás fica ―
audaz e quase pueril na incontida ânsia
de tudo fazer melhor, sem repetir erros.
Por isso Te peço a radiosa Esperança
de acreditar que tudo é possível,
mesmo quando o negrume dos dias
parece uma estrada sem fim.
Peço-Te ainda forças para suportar
tudo o que tiver de sofrer,
sem desesperar.
Dá-nos o sol dos tempos benditos
e que nós saibamos aproveitá-lo
para criar o alimento dos dias futuros,
para nos darmos as mãos fraternamente,
e amarmos sempre como quem ama
pela primeira e única vez.
...
Maria Teresa Sampaio
Picasso. Pomba da Paz.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

É Natal!

Amor, Amor imenso, profundo Amor.
Amor que é dádiva, Amor que é gratidão,
Amor solidário, responsável, companheiro, amigo.
Amor abnegado, que protege, que acompanha, que apoia,
Amor presente, que assiste, que ajuda, que ampara.
Alegria imensa, profunda. Radiosa Alegria.
O Natal é este Amor, esta Alegria.
É o nascimento de Jesus Menino.
É essa centelha de Luz e de Amor
que deixou em cada um de nós,
que vemos brilhar como a estrela do norte
no olhar puro e inocente das crianças.
São tréguas que se abrem entre
aqueles que contendem.
É Esperança radiosa como flor 
que desabrocha no meio de pedras.

É Natal!

Feliz Natal.
….
  
19 de dezembro de 2017

Maria Teresa Sampaio


 Gerard van Honthorst, Adoração dos Pastores, 1622


segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

A vida não é a preto e branco

Sim, eu sei, a vida dói. Há momentos que quase nos arrastam para o abismo. Há horas em que nos sentimos fechados num quarto escuro ou numa cela de onde não conseguimos sair. Há dias com tantas nuvens que não enxergamos o sol. Falo do sol, não apenas astro, mas também luz, energia, esperança. Se não o temos dentro de nós como bússola, corremos o risco de nos perder. Pode ser apenas um ténue raio, mas esse mesmo tem um intenso poder clarificador. Podemos crer ou descrer. Olhar de frente ou virar a cara para não ver a miséria, as injustiças, os males que corroem o mundo em que vivemos. Temos essa liberdade de escolha. Mas se optarmos por não nos envolver, e se nada fizermos, somos responsáveis pelo estado da sociedade que deixamos aos nossos filhos e netos. Somos o exemplo não apenas do que pensamos, mas também do que fazemos. Por isso, somos o resultado das nossas escolhas. Não escolher é já escolher. Deixar correr sem nos envolvermos, por comodidade ou cobardia, também é uma opção. Não ligar à política é uma forma de ser político, mas absentista. Não dar nada aos outros, sejam eles da família, amigos ou estranhos, é o mais nefando egoísmo. Enfim. A vida não é a preto e branco. Existem cambiantes. De um lado não está o bem e do outro o mal, ou os bons e os maus como os americanos tanto gostam de simplificar. O que fizermos agora tem implicações amanhã. É preciso que nos consciencializemos dos nossos atos e omissões. A liberdade não é um estado puro, sem quaisquer condicionalismos.
Ser Livre custa. Mas vale a pena.
10 de dezembro de 2017 
Maria Teresa Sampaio
L'enfant au pigeon. Pablo Picasso
De felicidade, de imensa alegria, de incontida emoção se fazem certos dias.
São momentos que se vivem intensamente como eu sempre gostei de viver.
O amor realiza maravilhas, suaviza as dores, faz despontar sorrisos que se abrem em gargalhadas, lágrimas que adoçam os traços do rosto. As surpresas não perdem o efeito mágico mesmo que alguém inadvertidamente deixe escapar uma palavra reveladora.
A família é esta raiz que cresce e se fortalece bem fundo, no ventre ou na terra, para depois se transmutar nas flores e nos frutos que são os filhos e os netos. A casa é mais do que estas paredes que me abrigam. É a verdadeira essência do Lar e quando os meu filhos e as minhas netas me rodeiam de tanto carinho, da profunda dádiva que nasce, num caso particular, do sacrifício pessoal, eu apenas posso e sei sentir-me imensamente feliz e grata. O riso e as lágrimas são como as cores do arco-íris, porque eu tenho o sol, as estrelas e o luar dentro de mim.
...
3 de dezembro de 2017
Maria Teresa Sampaio






quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

O louco

Loucos, há-os em todos os tempos. O século XX destacou-se nessa área.
No século XXI há vários, os que se conhecem e os que estão ocultos entre as massas. Alguns equivalem-se no grau de insanidade. Tanto assim é que entre  ‎Kim Jong-un e Donald Trump tenho uma enorme dificuldade de escolha. Ambos padecem de perigosos distúrbios de insânia. Revelam atitudes de insensatez, imprudência, irresponsabilidade e mesmo bizarria. São muitos adjetivos para definir dois homens apenas? É verdade. E, contudo, não chegam.
Donald Trump, ao tomar a decisão de mudar a embaixada dos EUA para Jerusalém, considerando-a, unilateralmente, capital de Israel, destruiu de uma só penada os ténues vestígios de paz no Médio Oriente. Ao arrepio do Direito Internacional, violando várias resoluções da ONU e enjeitando a capacidade de mediação do país que desgraçadamente representa, num conflito que, agora, graças a esta medida completamente temerária, leviana e estúpida, de novo se agudiza perigosamente,  o senhor que detém o poder nos EUA, apenas vem acentuar  grosseiramente o que já sabíamos: não possui o mínimo de aptidões para desempenhar o cargo para o qual foi eleito à tangente, com a ajuda solícita de Putin, é um ignorante rico e um louco perigoso, que de diplomacia sabe menos de zero. É questionável e mesmo improvável que consiga acalmar os ânimos internamente, cedendo ao lobby judaico, e para o caso vertente, isso também pouco importa. Na arena internacional só conseguiu, por ora, o apoio espectável e reconhecido de Benjamin Netanyahu e a oposição de todos os países muçulmanos a esta que já é considerada pelo presidente do concelho nacional iraniano-americano a “mãe de todas as medidas estúpidas”. Quanto aos restantes países do mundo, até há pouco, não eram conhecidos apoios. Pelo contrário. A primeira reação internacional foi do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, criticando "medidas unilaterais”  e afirmando que Jerusalém tem de ser reconhecida como "capital de Israel e da Palestina". Também a EU rejeitou já a decisão de Trump.
O jornal Daily Star no Líbano escreveu em manchete: “Sem ofensa, senhor Presidente: Jerusalém é a capital da PALESTINA”.
Mr. Trump conseguiu em menos de três dias desencadear uma nova intifada. A sabedoria deste homem é incomensurável.
7 de dezembro de 2017

Maria Teresa Sampaio
Jacob Cornelisz van Oostsanen 
The laughing Fool, ca. 1500.




sábado, 2 de dezembro de 2017

”I know not what tomorrow wil bring”.

Fernando Pessoa fumava cerca de quatro maços de tabaco diariamente e bebia, bebia muito. Nos últimos tempos de sua vida as cólicas abdominais e os estados febris, por vezes intensos, eram cada vez mais frequentes. O médico avisara-o que tinha de parar. Mas Pessoa não lhe deu ouvidos e prosseguiu o seu caminho alheado da terrível realidade que funcionara como uma sentença a pairar sobre a sua vida, embora tantas vezes ele próprio tivesse escrito sobre a morte. No dia 29 de novembro de 1935, ainda chamou o Sr. Manassés, barbeiro, que morava bem perto de si, na rua Coelho da Rocha, em Campo de Ourique, mas acabou por ser hospitalizado no Hospital de São Luís dos Franceses, no Bairro Alto, com uma crise hepática grave. Já na cama, pressentindo o fim, pediu papel e lápis para escrever as suas últimas palavras, na forma enigmática que lhe era tão peculiar. Não usou o português, mas sim um inglês literário:
”I know not what tomorrow wil bring”. 

No dia seguinte, a 30 de novembro de 1935, Fernando Pessoa deixou-nos. Eram cerca das 20 horas. 
Ocorrem-me as suas palavras proféticas: 

“Tornando-me assim, pelo menos um louco que sonha alto, pelo mais, não um só escritor, mas toda uma literatura, quando não contribuísse para me divertir, o que para mim já era bastante, contribuo talvez para engrandecer o universo, porque quem, morrendo, deixa escrito um verso belo deixou mais ricos os céus e a terra e mais emotivamente misteriosa a razão de haver estrelas e gente.” (“Aspectos” , Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação. Fernando Pessoa. (Textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1966)
Fernando Pessoa foi a enterrar no Cemitério dos Prazeres, no jazigo da avó, no dia 2 de dezembro de 1935. Luís de Montalvor discursou em nome dos sobreviventes do grupo do Orpheu. Fisicamente o Escritor deixara-nos, mas a verdadeira importância da sua obra ainda iria ser descoberta, reconhecida, estudada e traduzida para todo o mundo, até aos dias de hoje. 
Fernando Pessoa era sensitivo e disso nos apercebemos em muitas dos seus escritos, como este do Livro do Desassossego em que diz: 

“ Penso às vezes, com um deleite triste, que se um dia, num futuro a que eu já não pertença, estas frases, que escrevo, durarem com louvor, terei enfim a gente que me «compreenda», os meus, a família verdadeira para nela nascer e ser amado. Mas, longe de eu nela ir nascer, eu terei já morrido há muito. Serei compreendido só em efígie, quando a afeição já não compense a quem morreu a só desafeição que teve, quando vivo. Um dia talvez compreendam que cumpri, como nenhum outro, o meu dever-nato de intérprete de uma parte do nosso século; e, quando o compreendam, hão-de escrever que na minha época fui incompreendido, que infelizmente vivi entre desafeições e friezas, e que é pena que tal me acontecesse.” 

É por isso que a minha página se intitula “Fernando Pessoa: "Passo e fico, como o Universo." https://www.facebook.com/pg/fernandopessoafica/ 
...

Lisboa, 30 de novembro de 2016 

Maria Teresa Sampaio
Funeral de Fernando Pessoa